Chamaram para atuar tecnicamente. Fiquei para traduzir possibilidades.

Era um caso sensível de judicialização da saúde: um jovem em grave dependência química.
A mãe buscava ajuda. O pai se opunha. Estava duro, reativo, agressivo.
Fui chamada para explicar tecnicamente o que era possível fazer — dentro da lei, dos protocolos, das garantias. Mas percebi que, mais do que responder se “podia ou não podia”, era preciso traduzir o que significava cada escolha.
Falei de direitos, mas também de consequências. Falei do risco da omissão. Falei do que a lei permite — e do que a vida exige.

A internação compulsória foi concedida.
Dias depois, o pai — aquele que mais resistia — me procurou.
Disse: “Obrigado. Eu não queria entender. Agora entendo.”
Foi uma das conversas mais leves que já tive depois de uma das decisões mais duras.


Porque nem toda escuta é jurídica. Mas toda boa decisão começa por ela.